HomeDREAMNotícias (Moçambique) – Paz 15 Anos : O porquê da memória
05
Ott
2007
05 - Ott - 2007



O DIA 4 de Outubro de 1992 era um domingo. Dia de festa, dia de ressurreição. Moçambique ressurgia. Como bem sabem todos os moçambicanos, naquela manhã foi assinado o acordo geral de paz, após longas e complexas negociações durante mais de dois anos nos locais da comunidade de Santo Egídio, em Roma.

No seu discurso, ouvido pelos moçambicanos colados ao rádio, num grande silêncio em todo o país, o então Presidente Chissano, declarou a paz “irreversível”. O líder da Renamo, Dhlakama, ordenou em directo aos seus homens de depor as armas. Tinha dito em Roma: “não pegarei as armas nunca mais”. Tornava-se realidade um sonho que até então parecia impossível: sair da guerra civil, e começar a construir regras democráticas de convivência entre forças que tinham uma diferente visão do país, desarmando as mãos, os corações e as mentes.

Fazer memórias, quinze anos depois, não é exaltar um tempo mítico. É regressar a um dos momentos fundamentais de Moçambique de hoje. Claro, o acontecimento da paz em Moçambique foi mesmo uma experiência extraordinária, uma aventura com muitos “golpes de teatro”. Hoje, em reconstruí-la, é importante sobretudo perguntar-se o que nos deixou, e como colher a herança.

A memória é uma das bases de um futuro democrático. O esquecimento da história da paz, pois, faz correr o risco de favorecer as tentações emergentes a resolver os conflitos políticos – que caracterizam a história de um povo – em modo não político e não parlamentar, às vezes violento. Os conflitos políticos do presente não podem fazer esquecer que a democracia deve ser levada a cabo através de uma ética do bem comum. Por isso é preciso a memória histórica que mete em luz os valores dos moçambicanos afirmados com a paz de 92.

O caso de Moçambique é um dos poucos exemplos felizes de uma negociação de paz que produziu uma paz douradora em África. Vieram de cada parte do mundo para estudar as razões. Passaram 15 anos, e Moçambique, apesar dos problemas, vive em paz. É uma lição para o mundo que torna grande o nome de Moçambique.

A instituição de 4 de Outubro como dia de festa nacional foi uma grande viragem nesse sentido. Esquecer era uma tentação. Este aniversário oferece-nos a ocasião para atingir a reserva moral e de responsabilidade representada pelo espírito do acordo assinado em Roma.

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Lembro-me sempre com comoção das palavras do primeiro Comunicado Conjunto de 10 de Julho de 1990, redigido após o primeiro encontro entre as duas partes beligerantes em Sant’Egidio, e que deixou espantados muitos cépticos, enchendo de esperança o país. Aquela linguagem tem em si a filosofia que levou ao acordo de 4 de Outubro de 1992. Vale a pena retomá-lo:

“Ambas as delegações, reconhecendo-se como compatriotas e membros da grande família moçambicana, expressaram satisfação e agrado por este encontro directo, aberto e franco, o primeiro a ter lugar entre as duas partes. As duas delegações manifestaram interesse e v

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