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MOÇAMBIQUE: Olhares do mundo, olhares sobre a SIDA
15
Set
2008
15 - Set - 2008



MAPUTO, 16 Setembro 2008 (PlusNews) – A questão do HIV e SIDA não poderia ficar de fora na terceira edição do Festival do Filme Documentário de Moçambique Dockanema, que abriu a 12 de Setembro em Maputo.

Dos 83 títulos que compõem o festival – uma selecção do melhor da produção mundial de documentários –, cinco abordam a questão da SIDA, na secção Olhares do mundo.

A realizadora moçambicana Isabel Noronha participa nessa secção com a Trilogia das novas famílias, um conjunto de três curta-metragens documentais. Os filmes dão cara e voz a crianças órfãs de SIDA, que após a morte dos seus pais passam a viver sozinhas, sem adultos. Esse é um modelo familiar cada vez mais frequente em Moçambique, onde esta problemática afecta já a cerca de 1,8 milhão de crianças.

Noronha começou a fazer a pesquisa na base de histórias individuais, atendendo a um pedido da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade, organização não-governamental local, liderada por Graça Machel, actual esposa do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela. Noronha visitou cerca de 60 crianças, todas vivendo sozinhas, com irmãos mais novos e sem adultos.

“Descobri que o problema era um pouco mais profundo daquilo que me parecia à partida”, conta. “Comecei a perceber que aquele conceito de família alargada africana, que acolhe toda a gente, faliu. Provavelmente porque as condições económicas são outras e sustentar uma família alargada hoje em dia é uma tarefa quase impossível.”

Caminhos do Ser, o primeiro da trilogia, narra a história de quatro irmãos, órfãos de pai e mãe e isolados pela comunidade, que associa a morte dos seus pais a feitiçaria.

Os quatro rapazes vivem completamente sozinhos, alternando os papéis de pai e mãe entre si, tendo apenas como guia a motivação para continuar os seus estudos, aprender uma profissão e cuidar com zelo da machamba e das tarefas domésticas.

Delfina-Mulher-Menina é a trajectória de uma menina que, aos 13 anos, teve de assumir o papel de chefe de uma família de quatro irmãos, em que apenas o mais novo a respeita. Os três mais velhos deixaram de estudar para ajudar os pescadores e ganhar algum dinheiro. Eles não respeitam a Delfina como irmã mais velha, criando em casa um ambiente de conflito permanente.

Ali-Aleluia, que fecha a trilogia, é a história de um menino de 12 anos, que contraiu SIDA por transmissão vertical de sua mãe que, como o seu pai, faleceu quando ele tinha oito anos. Ele vive na casa que era dos seus pais com uma prima, mas foi praticamente adoptado pela activista que cuida dele, uma vizinha que tem uma filha adolescente por quem Ali é apaixonado.

Técnicas de animação

O festival também abriu espaço para outros tipos de linguagem que não a de documentários convencionais. No projecto experimental A mãe dos netos, Noronha tenta encontrar, na junção da linguagem de documentário com técnicas de animação, uma forma de tratar questões reais e éticas sobre o HIV e SIDA.

“Encontrei uma situação difícil de tratar cinematograficamente. Uma velha estava a viver com 14 netos, herança de um único filho, que tinha oito mulheres, todos eles mortos por causa de SIDA. Era uma história que eu tinha de contar no passado. Percebi que a animação poderia ser um recurso para contar uma história no passado, com alguma eficácia”, relata.

Assim, toda a história documental foi recolhida, as situações do presente filmadas, bem como os cenários onde ocorreram as histórias do passado. Nas situações do passado, entretanto, foram utilizadas técnicas de animação.

Segundo Noronha, a junção funcionou muito bem, como técnica e narrativa.

“A animação empresta ao filme uma força que o documentário por si não tem. Esta técnica permite trabalhar uma outra questão que penso que é complicada nos casos de pessoas com SIDA, as questões éticas ligadas à identidade das pessoas que não querem aparecer como personagens”, explica.

Outro filme a destacar é Viva a África viva, de Paolo Mancinelli. O documentário traz a história de pessoas que conseguiram superar o estigma e a discriminação por meio do tratamento antiretroviral (ARV) do programa DREAM, da Comunidade de Sant’Egidio em Moçambique e no Malauí.

No longa-metragem, Ana Maria Muhai, uma das protagonistas, conta como era chamada “fantasma” pelos vizinhos, quando pesava 29 quilos. Ela se recuperou graças à intervenção do DREAM, que hoje abrange 500 mil pessoas em toda África com ARVs, tratamento das doenças oportunistas, apoio nutricional, prevenção da transmissão vertical, análises laboratoriais e formação.

O último filme, Meu marido está a negar, de Rogério Manjate, é um olhar fascinante do espectáculo participativo do Grupo Teatro do Oprimido, que encoraja a mudança de comportamento e consciencializa as pessoas, neste caso homens, a fazerem o teste do HIV.

O festival decorre até 21 de Setembro e tem o patrocínio das embaixadas do Brasil, Itália, Alemanha, Bélgica e Estados Unidos da América, além de instituições como o Conselho Britânico, CMC e TDM.

http://www.plusnews.org/pt/Report.aspx?ReportId=80378

 

 

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