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Moçambique: Activistas de HIV promovem protestos pela melhora no atendimento
02
Ago
2009
02 - Ago - 2009



MAPUTO, 3 Agosto 2009 (PlusNews) – Cerca de 1.200 pessoas marcharam na manhã desta segunda-feira em Maputo, capital de Moçambique, protestando contra a decisão do governo de encerrar o atendimento de seropositivos nos chamados hospitais dia e denunciando os problemas de acesso ao tratamento de HIV no país.

Em simultâneo, outros 800 manifestantes percorriam as avenidas da cidade da Beira, centro de Moçambique, protestando pelas mesmas razões.

As estimativas de comparecimento foram de alguns dos organizadores, em sua maioria líderes de ONGs ligadas à defesa dos direitos dos seropositivos. No final do dia, activistas afirmavam que a manifestação em Maputo chegou a ter 3.000 pessoas.

Na capital, os manifestantes caminharam cerca de três quilómetros entre a avenida Eduardo Mondlane, uma das principais vias de Maputo, e o edifício do Ministério da Saúde, interrompendo o trânsito no centro da cidade.

Eles leram e entregaram ao ministro moçambicano da saúde, Paulo Ivo Garrido, uma carta de apelo em que pedem medidas para resolver os problemas de acesso ao tratamento com antiretrovirais (TARV) e a reavaliação da sua decisão de mandar encerrar os hospitais dia – locais de atendimento e tratamento de pessoas seropositivas.

Unidade nacional contra discriminação

Na carta, eles lembraram a inauguração há dois dias da ponte sobre o rio Zambezi, que une o norte e o sul do país, considerada “um sinal inequívoco da unidade nacional, e desejamos que neste nosso maravilhoso país, também a superação do estigma se torne um sinal de unidade nacional de Rovuma à Maputo”.

“Queremos que o governo nos escute e tome medidas para que os moçambicanos tenham acesso ao TARV sem passar por grandes dificuldades. O tratamento tem que ser de qualidade e disponível em todas as unidades hospitalares”, disse Flavio Ismael, activista da ONG Eu Dream, que estava entre os manifestantes.

Helga Angelina, 17 anos, caminhava em direcção à escola quando deu de cara com um grupo de pessoas que marchavam entoando canções de reprovação ao ministro da saúde. Parou, informou-se do que sucedia e decidiu interromper sua viagem à Escola Secundária Francisco Manyanga, em Maputo. Juntou-se ao grupo e marchou.

“Acho justo que as pessoas marchem para exigir seus direitos. Por isso me juntei a elas. Vou ter falta na escola, mas será por uma causa justa”, disse Helga.

Cândido Massango, aderiu à marcha em substituição de sua sobrinha, seropositiva. Comprometido com a luta dos seropositivos pelos seus direitos, Massango se juntou à manifestação para garantir que sua familiar não passe por situações de falta de tratamento.

"Hoje não fui ao trabalho. Vim marchar porque a minha sobrinha, infectada por HIV, não pode estar aqui. Vim manifestar-me por ela”, disse Massango, para quem com o fechamento dos hospitais dia, muitas pessoas estão a ter dificuldades de ter medicação em outros centros de saúde e hospitais.

“Eu só quero pedir ao Ministro para que reveja a sua decisão (de encerrar os hospitais dia)”, disse.

A seropositiva Ainda Macamo* trabalha como empregada doméstica para cidadãos indianos. Não sabe se seus patrões a deixarão continuar a trabalhar depois de não ter ido ao trabalho esta manhã. Entre comparecer ao emprego e participar da marcha, Macamo preferiu a segunda opção.

“Era uma oportunidade para juntar-me com todas estas pessoas e ir ter com o ministro. Não podia faltar. Desliguei o meu celular e vim para a marcha. Quando terminarmos, irei trabalhar. Nós estamos a morrer e não podemos continuar calados”, explicou Macamo, quem ficou a saber da marcha a partir de um convite que um jovem activista do seu bairro lhe fez.

A decisão de fechar os hospitais dia em Março de 2008 é apontada pelos organizadores das marchas como a razão para o aumento do abandono do tratamento, de mortes relacionadas com o HIV e também da discriminação contra pessoas vivendo com o HIV, que denunciam que são identificadas e até obrigadas a fazerem bichas apenas de seropositivos nos hospitais a que foram transferidos para tratamento.

César Mufanequiço, coordenador nacional do Movimento para Acesso ao Tratamento em Moçambique (MATRAM), uma das entidades que organizaram o protesto, disse ao Plusnews que os procedimentos usados pelo MISAU na tomada de decisões sobre HIV/SIDA, sem consultar aos pacientes e à sociedade civil moçambicana vão continuar a trazer problemas que afectarão os pacientes de HIV/SIDA em Moçambique.

“A decisão de encerrar os hospitais dia trouxe o difícil acesso ao tratamento para novos infectados por HIV e a redução da qualidade de tratamento para os que já se tinham iniciado. Esta marcha pretende apelar para que se reverta esta situação”, disse César Mufanequiço.

No documento entregue ao ministro os manifestantes exigem ainda o reforço das campanhas contra a discriminação nas escolas, universidades e locais de trabalho; a introdução de um código de conduta ética para o pessoal da saúde para proteger a privacidade dos seropositivos; maior divulgação sobre os direitos dos seropositivos e a facilitação no acesso ao TARV para pacientes novos.

Até o momento, Ivo Garrido apenas prometeu que vai envidar esforços com vista a resolver os problemas e as insuficiências que levaram os marchantes a manifestar-se. Garrido disse um pouco depois de terminar o protesto que, apesar dos problemas actuais, o número de pessoas em tratamento tem vindo a aumentar em Moçambique. O ministro alia este aumento de pacientes em TARV com o surgimento de problemas de acesso e da redução de qualidade.

“Em apenas quatro anos passamos o número de pessoas com assistência antiretroviral de seis mil para mais de 140 mil. É normal que haja problemas”, justificou Garrido.

Com uma prevalência de 16 por cento da população total, estimada em 21 milhões de pessoas, a maior parte dos 140 mil moçambicanos beneficiados com o TARV está em Maputo.

* nome fictício

FROM: http://www.plusnews.org/pt/Report.aspx?ReportId=85560

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