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Sonhando no Dia Mundial do HIV
01
Dic
2011
01 - Dic - 2011




Ontem foi o dia mundial do combate ao HIV. O Dream é um dos lutadores e já fez nascer 1500 crianças saudáveis

Alfredo António

SEBASTIÃO e Zélia embalavam cuidadosamente, num guardanapo de papel, centenas de doses de bolacha Maria que iriam ser distribuídas às mulheres que ocorrem ao Centro para a Criança Dream. Tratase de um programa de combate ao HIV destinado às crianças e às mulheres grávidas, idealizado pela Comunidade de Sant’Egidio, instituição religiosa de origem italiana que tomou um papel activo no processo de paz de Moçambique – que culminou com a assinatura dos Acordos de Ro-ma, em Outubro de 1992.
Cada dose era constituída por cinco bolachas e destinava-se às mães que estavam no pátio, sentadas à espera da consulta mensal. «Às vezes estão três ou quatro horas aguardando a vez», esclareceu Sebastião. Para as crianças há sempre uma papa. Naquele dia era de soja. No seguinte, para não saturar, seria de legumes com arroz. O fervilhar da panela indicava estar quase pronta a ser servida. Uma das activistas acercou-se da panela e começou a encher os pratos.
Cerca de 30 crianças receberam este suplemento nutricional.
É na Avenida Eduardo Mondlane, não longe do Hospital Central, que funciona, desde 2002, o Centro Dream mais importante de Moçambique. No inicio o programa teve muita pouca adesão, sendo apenas procurado pelos doentes já em fase avançada da doença e que tinham sido atingidos por um forte estigma social. Mas, volvidos três meses, devido aos resultados extraordinários do tratamento, a situação inverteu-se e em pouco tempo milhares de pessoas começaram a acreditar na terapia.
Mulheres abandonadas à sua sorte, que já não conseguiam levantar-se da esteira, passaram dos 30 para os 70 quilos de peso, retomando uma vida normal com os seus filhos. Homens completamente prostrados voltaram a levantar-se diariamente para o trabalho, resgatando a sua dignidade. Ao cabo de dois anos, o Dream já fazia 20 mil testes iniciais em todo o pais.

O Dream inovou quando iniciou a triterapia com as mulheres grávidas, continuando a trata-las mesmo após o parto

97% dos nascidos sem Sida

Foi também no ano de 2002 que o programa deu inicio a um dos seus maiores sucessos: a prevenção das mulheres grávidas seropositivas. Com ele pretende-se não so que a criança nasça livre do HIV, combatendo a transmissão vertical da Sida, mas igualmente manter as mães sãs, graças sobretudo ao aleitamento artificial.
O Dream inovou quando iniciou a triterapia (combinação de três anti-retrovirais) com as mulheres grávidas, continuando a tratalas mesmo após o parto.

«Até agora nasceram do programa de prevenção materno-infantil de DREAM 1500 crianças, das guais mais de 97% sem Sida», refere Noorjehan Abdul Majid, de 39 anos, responsável clinica do Centro Dream da Eduardo Mondlane. «Este trabalho, em todo o pais, é efectuado por duas médicas. Dividimos os centros. Eu sou responsável por alguns centros de Maputo e Beira. A minha colega ficou com Gaza e Quelimane e alguns de Maputo».
Noorjehan está no programa desde o início. «Este centro é completo. Temos as mulheres grávidas, o controlo das crianças até aos 18 meses de idade, os adultos e crianças normais. Efectuamos 60 a 80 consultas por dia. Além de mim, estão cá mais dois médicos, dois técnicos de medicina e uma enfermeira que faz o controlo. No total somos seis clinicos, o que quer dizer que temos muitos pacientes», esclarece.
E que tipo de apoio é prestado? «Damos consultas, integração alimentar, se for caso disso, e medicação mensal. É tudo gratuito. As pessoas chegam com análises feitas e a partir daí é tudo gratuito». E acrescenta: «Temos também um kit de grávidas, que inclui água, rede mosquiteira e leite».


Activando esperança nos pacientes activistas são os soldados da Dream. Albina é uma delas

NAS palestras fala-se de tudo. Higiene, educação sanitária, HIV em geral, preservativo e adesão à medicação. As palestras são realizadas por quem sabe do que fala: as activistas. O grupo; composto por adolescentes seropositivas, são os `soldados’ da linha da frente da batalha ao HIV encetado pela Dream, mas sobretudo do combate ao estigma e à tristeza que invade um seropositivo.
Além de terem aulas com os técnicos e com os médicos, são elas que organizam as palestras, ensinam a fazer as sopas; alertam para os cuidados domiciliãrios, como o banho ou a medicação. «Falam a lingua dos doentes. Muitas vezes há pacientes que reagem mal à medicação, por isso, melhor do que ninguém, os activistas conseguem transmitir informação, sem vergonha nem preconceito», explica a responsável clinica do Centro Dream da Eduardo Mondlane, Noorjehan Majid.

Albina Marques, 20 anos, é urna das activistas do centro. Quando ali chegou,há cerca de oito anos, era uma menina de 12 anos metida num corpo de oito. «E não vai sair daqui tão cedo», observa, num sorriso, a médica. É Albina que lida com os adolescentes. «O que vai na mente de um adolescente é dinail de descobrir, mas ela sabe», diz a médica. E continua: «Não é fácil falar nisso com eles. Na altura das férias junto grupos de 12 ou 14 adolescentes para conversarem. Eu não posso estar presente porque, na minha presença, eles não se abrem. Mas o nosso problema é sempre a adesão ao tratamento. Se eles desistirem da medicação, o corpo desenvolverá defesas, que terão de ser combatidas com a segunda linha de tratamento, muito mais cara do que a primeira».
Albina estava tão doente queficau três anos sem ir à escola. Quando ali chegou pesava 15 quilos. Hoje, com o tratamento, pesa 60 e frequenta o segundo ano de medicina na UEM.

Alfredo Antoni

Jornal Sol do Sia 2 – 12 – 2011

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