HomeDREAMAgenzia Lusa (Mozambico) – Dia da Criança/Moçambique: O dia mundial igual a todos os outros para Sónia da Graça e Osvaldo Arnaldo
30
Mag
2007
30 - Mag - 2007



Pedro Figueiredo (Texto) e Pedro Sá da Bandeira (Fotos), Agência Lusa

Matola, 31 Mai (Lusa) – Com nove anos, Sónia da Graça tem ainda uma mão cheia de dúvidas sobre o que quer ser na vida, mas não hesita na altura de prever como passará o Dia Mundial da Criança, que sexta-feira se celebra.
"Vou ajudar a minha mãe a cozinhar. Depois lavar pratos e levar a minha roupa suja a lavar. Depois vou tomar banho e depois, quando já é noite, dormir", diz com um ar grave e resignado, sentada num banco comprido de madeira, baloiçando os pés que não chegam ainda ao chão.

De calças de ganga e enorme coração estampado na blusa cor-de-rosa encardida, Sónia da Graça é uma das 890 crianças que acorrem diariamente ao centro de ajuda nutricional da Comunidade de Sant´Egídio, recentemente construído na periferia de Maputo, para receber uma refeição diária. A de hoje era composta por um ovo cozido, arroz branco e uma banana.

Há dois anos, Sónia percorreu sozinha os caminhos de poeira vermelha que separam o centro da sua casa e chegou ao portão metálico do centro com um papel dobrado na mão, escrito pela mãe agonizante: "Estou a morrer. Peço que me ajudem", lembra Cassilda Massango, responsável no projecto.
Filha de pais divorciados – "o meu pai já não está com a mãe, tem outra mulher", relata, em voz baixa -, Sónia divide os seus dias entre as tarefas domésticas e a escola onde, apesar de se sentar "no chão que está liso", encontrou já preferências.

"Estudamos contas de mais e de menos. Esta semana começámos a saber contas de vezes. Mas eu gosto mais de contas de mais e de menos", aponta. Apesar da "queda" para os números, Sónia da Graça não sabe ainda exactamente o que quer ser: "posso trabalhar numa fábrica, posso até ser médica".

O sorriso, que lhe devolve ao rosto o semblante de criança normalmente escondido, só surge quando "soninha", como é conhecida, fala daquilo que não tem: brinquedos.
"Sim, já tive uma boneca de pano. Foi a minha tia que comprou. Mas roubaram-me. Eu não estava em casa, tinha ido para a escola. Foi uma minha amiga", relata.
Como tantas outras meninas em Moçambique, o desejo de Sónia não se esgota numa efeméride cujo significado nem sequer compreende inteiramente. "Quando eu ser grande eu gostaria de ter muita roupa. Bonecas e roupa e material de escola", determina.

Não muito longe, no mesmo recinto de pequenos pátios com telhados cobertos de colmo, onde as crianças se espalham numa algazarra contida, está Osvaldo Arnaldo, 12 anos, "o segundo" de quatro irmãos que vive "lá em baixo, ao pé da avó Rosa".
Osvaldo é uma paleta de cores ambulante, a que não se fica indiferente: ténis verdes e brancos, calções pelos joelhos listados a azul, vermelho e branco, como um toldo de praia, t-shirt azul clara onde se lê em letras bem visíveis a palavra "shark" (tubarão). Na mão segura firmemente um pequeno boné roxo com a inscr

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