HomeDREAMIrinPlusNews – Às vezes a tempestade parece não
21
Ago
2007
21 - Ago - 2007




Graças à vida

« Quando era uma miúda, nunca percebia quando meus pais diziam que depois da tempestade vinha a bonança. Também depois de adulta foi sempre difícil acreditar nesse ditado. A vida não tem sido fácil. E quando descobri que era seropositiva, meu marido abandonou-me, os vizinhos faziam troça de mim, e eu não conseguia sequer levantar-me, nunca podia pensar naquela bonança que havia de vir.

Hoje passados já cinco anos, estou aqui. Cheia de trabalho, novas amizades, a viver numa bonança estranha. Pois quem diria que uma mulher como eu, pobre, com oito filhos, seropositiva, poderia se dizer feliz? Eu sinto-me feliz.

Depois ter começado o tratamento antiretroviral e ganhado as minhas forças, uma nova vida começou, um mundo novo abriu-se. Comecei a trabalhar como activista e hoje sinto-me feliz por ajudar até os meus vizinhos, que antigamente me apontavam a dedo: “Aquela lá é sidinha. Amanhã vai morrer!”

Hoje meus vizinhos me chamam de “ambulância”. Vêm à minha casa a toda a hora. Quando alguém está doente, batem à minha porta, até à meia-noite, para pedir conselhos, para pedir ajuda. Eu encaminho todos para fazer o teste do HIV e se o resultado for positivo, indico onde fazer o tratamento. Tenho a meu cargo uma zona do meu bairro para fazer actividades de aconselhamento, para ver se as pessoas tomam os antiretrovirais, se as avós dão correctamente os xaropes às crianças. Enfim, virei enfermeira a tempo inteiro.

Tive a sorte de arranjar trabalho como activista no programa DREAM, da Comunidade de Santo Egídio. Tive a sorte de encontrar pessoas generosas. Sinto que devo retribuir toda essa generosidade e mostrar como se pode viver, e bem, mesmo com o vírus dentro de nós.

Temos de usar esta tragédia da Sida para ficar melhor, para fazer um mundo melhor, para educar nossas crianças a ser melhores e a evitar a infecção. Digo aos meus filhos e a todos os jovens que encontro nas palestras que dou, para começar a namorar mais tarde. Também porque namorar não significa só fazer sexo. O sexo pode vir depois, quando estiverem seguros. Na lista das prioridades da vida deve estar a escola, os passeios, o cinema, dançar, as tarefas de casa, ouvir os mais velhos. E quando for a altura do sexo, usar sempre a camisinha. Afinal, se temos possibilidade de nos proteger, por que desperdiçar a vida?

Virei uma mulher importante não só no meu bairro. Participo em seminários e conferências, não só em Maputo mas também em outras partes do mundo. Quando sou convidada em Maputo, o escritório manda vir um táxi buscar-me a casa. Os vizinhos chamam-me “primeira-ministra”.

Como começo a ser convidada lá fora também – já estive na Itália, no Malawi –, passei a estudar inglês. Matriculei-me em Junho. Tenho uma hora de inglês, todos os dias. Depois do trabalho, apanho o chapa e vou até à baixa. Meus colegas já sabem da minha situação. Nunca escondo. Até porque muitas vezes sou convidada pelas estações televisivas para falar da minha experiência. Uma vez, num programa, disse que não desespero,

NEWSLETTER

Mantieniti in contatto con DREAM

* Campo obbligatorio