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Moçambique/Sida: Ismael, que pensou “tomar um veneno” e hoje “prega a esperança”
05
Lug
2009
05 - Lug - 2009



Maputo – Ismael, 33 anos, pensou em “tomar um veneno” ou “atirar-se à praia”, quando os amigos lhe adivinharam que as borbulhas no seu corpo eram da SIDA. As melhoras com os anti-retrovirais fazem dele agora um "pregador da esperança".
Actualmente conselheiro no projecto de tratamento de seropositivos DREAM, da Comunidade de Santo Egídio, em Maputo, Ismael diz à Lusa que a sua própria experiência de seropositivo mostra que “a discriminação e o isolamento matam mais que a própria SIDA”.
“No início tossia e tinha manchas no corpo. Mas quando muitos amigos e familiares começaram a fugir de mim, comecei a perder peso, piorei. Passava o tempo sozinho e fechado no quarto”, lembra-se Ismael da sua reacção aos primeiros sintomas de HIV/SIDA, em 2001.
As campanhas de HIV/SIDA que falam mais da morte e associam a contaminação à má vida levam a sociedade moçambicana a discriminar as pessoas infectadas pelo vírus, diz.
“As mensagens sobre o HIV/SIDA dão a ideia de que as outras doenças não matam. E isso não é verdade, principalmente aqui em Moçambique, onde a malária mata mais ou tal como a SIDA”, acrescenta Ismael.
“É por isso que as acções de sensibilização devem ser mais honestas e claras, e mostrar às pessoas que há esperança, não é só morte, é possível viver infectado”.
Ismael acredita que foi a sinceridade e a honestidade do conselheiro que o assistiu num ex-Gabinete de Atendimento e Tratamento Anti-retroviral (GATV) que o salvou.
“Explicou-me tudo. Disse me que não ia morrer tão cedo como muitos diziam, porque com uma vida regrada, alimentação equilibrada e medicamentos a tempo e horas levaria uma vida normal. Vivo normalmente até hoje”, refere ainda Ismael.
Apesar das intensas campanhas de sensibilização sobre o HIV/SIDA realizadas em Moçambique, os casos de infecção têm aumentado, principalmente no Sul, incluindo em Maputo, com uma média de 21 por cento, acima da média nacional, que é de 16 por cento.
O conselheiro Ismael entende que o Governo deve aliar o fornecimento de anti-retrovirais ao “pacote nutricional”, porque muitos doentes não têm meios para conseguir uma alimentação equilibrada.
“Eu tenho a sorte de estar num projecto que me garante alimentação equilibrada. Mas há muitos moçambicanos seropositivos que não têm essa sorte e não aguentam com os anti-retrovirais”, diz.
Decisões como o encerramento das enfermarias dos seropositivos e a sua integração nas enfermarias normais, recentemente tomada pelo ministro moçambicano da Saúde, Ivo Garrido, também não ajudam, considera Ismael.
“Como ainda há muito estigma, os seropositivos não aceitam ser misturados nas bichas com outros doentes. Já ouvi situações de doentes que desistiram do tratamento, porque não querem ser vistos nas bichas por pessoas que têm outras doenças”, observa Ismael.
Hoje, a Comissão Parlamentar de Combate à Sida apresenta na Assembleia da República um relatório sobre a pandemia em Moçambique, situação que o presidente da comissão, Isaú Menezes, considera alarmante, tal como a primeira-ministra, que anunciou já um plano de combate para a zona sul do país.

 

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