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Doentes de SIDA protestam contra mau atendimento
09
Ago
2009
09 - Ago - 2009



MAPUTO – Centenas de doentes e activistas de HIV/SIDA saíram às ruas, esta segunda-feira, na Capital do País, em protesto contra a decisão tomada, pelo ministro da Saúde, Ivo Garrido, que consistiu no encerramento de Hospitais Dia, que se destinavam, exclusivamente, à prestação de assistência a doentes de SIDA.

Entoando canções e empunhando dísticos com mensagens de protesto contra a medida de Garrido, que entrou em vigor, em Março de 2008, os manifestantes percorreram os cerca de dois quilómetros da Avenida Eduardo Mondlane, uma das principais artérias da cidade de Maputo. A marcha só terminou, no Ministério da Saúde, MISAU, onde o grupo entregou, ontem, uma mensagem de protesto contra a medida, ao titular do pelouro, Ivo Garrido.
O coordenador do Movimento para o Acesso ao Tratamento Antiretroviral, TARV, em Moçambique, César Mufaniquiçe, disse, quando lia a mensagem entregue, posteriormente, a Garrido, que “queremos manifestar a nossa indignação por causa deste processo”, referindo-se, ao encerramento dos Hospitais Dia, alegadamente, por a estigma em relação às pessoas padecendo da chamada doença do século ter piorado, com a medida de Garrido.
“Os hospitais Dia eram um verdadeiro centro de excelência, um centro da dignidade humana”, disse Mufaniquiçe, na sua mensagem lida, ao ministro da Saúde. Os doentes de HIV/SIDA consideram que o estigma em relação à sua situação piorou, depois da sua integração, nos hospitais comuns, onde são misturados com pessoas sofrendo de outros tipos de doenças e, muitas vezes, segundo os manifestantes sustentam, os profissionais da Saúde não têm tido paciência suficiente, para os cuidar, devidamente.
Os manifestantes falam da existência de muitos doentes de SIDA que interromperam o TARV, porque os seus processos, já fora dos Hospitais Dia, ainda não se encontram, nos hospitais comuns.
Outros referiram, ainda, que estão a receber o tratamento, mas o nível de atendimento é, de longe, comparável ao que eram prestados, nos Hospitais Dia, onde os doentes beneficiavam de tratamento personalizado e tinham a possibilidade de acompanhar, devidamente, os progressos do seu estado serológico, o que não se tem verificado, nos hospitais comuns. De acordo com os doentes e activistas de HIV/SIDA, o ministro da Saúde não auscultou a ninguém sobre as vantagens desta medida. Aliás, ao longo da sua marcha, estes consideram Garrido como um ditador, alegadamente, por ter decidido encerrar os Hospitais Dia, sem, antes, consultar nem a sociedade civil, os doentes, nem o pessoal médico. Percina Narsone, do Programa DREAM da Comunidade do Sant’Egídio, que trabalha na área do HIV/SIDA, disse que, com o encerramento dos Hospitais Dia, o problema de acesso ao TARV tornou-se mais grave, segundo suas palavras, principalmente, dos doentes transferidos destas unidades sanitárias de referência, para os hospitais comuns.
Narsone acrescentou que, muitas vezes, o doente não tem informação sobre o seu estado de saúde e há casos que nem o pessoal médico a tem. Disse, ainda, que, no contexto deste processo, ficou, também, encerrado o laboratório do programa DREAM, na maior unidade sanitária do País, Hospital Central de Maputo, onde se realizavam os testes sobre a carga viral dos doentes.
Narsone explicou, igualmente, que, em consequência da medida, neste momento, os testes sobre a carga viral dos doentes são realizados, no estrangeiro, e o processo não tem sido eficaz, pelo menos, até este momento.
A fonte disse que o Programa DREAM foi o primeiro a introduzir o TARV, em Moçambique, sendo, por isso, conhecido como sendo de referência. Este é o único que possui os seus Hospitais Dia, ainda em funcionamento, mas os seus gestores ainda não sabem qual será o seu futuro.
De acordo com Narsone, depois do encerramento dos Hospitais Dia e se provar a ineficiência dos hospitais comuns, muitos doentes de SIDA tentaram integrar-se, no Programa DREAM, mas parte deles foi rejeitada, porque os gestores do programa não sabem se este vai ou não continuar. No entanto, depois de receber a mensagem dos activistas, o ministro da Saúde deixou claro que a sua intenção e a do Governo sempre foi de cuidar dos doentes, nunca de os prejudicar.
Segundo Paulo Ivo Garrido, em 2005 havia seis mil doentes de SIDA, recebendo tratamento em 12 diferentes locais espalhados, pelo País, número que agora subiu para cerca de 145 mil pacientes tratados, em mais de 200 sítios.
“Num processo de passagem de seis mil doentes para mais de 140 mil é normal que haja problemas”, disse Garrido, prometendo que ele e a sua equipa irão continuar a trabalhar, de modo a cuidar de doentes e encontrar uma solução para as preocupações, levantadas.
Em Março do ano passado, Garrido determinou o encerramento dos 23 Hospitais Dia, distribuídos pelas províncias de Maputo e Gaza, na região Sul do País, Sofala, Manica, Tete e Zambézia, no Centro, e Nampula e Niassa, no Norte, e a integração dos doentes de SIDA, nos hospitais comuns, porque, segundo o titular da pasta da Saúde explicou, na altura, este tipo de unidades sanitárias destinado, exclusivamente, ao tratamento de doentes de SIDA, só agravava o estigma e constituíam focos de discriminação dos doentes. (Redacção)

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