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HIV:LUTA CONTRA DISCRIMINAÇÃO TORNA MARIA MUHAI “MULHER DE CORAGEM” EM MOÇAMBIQUE
08
Apr
2012
08 - Apr - 2012



Maputo, 6 ABR (AIM)- Eu descobri que tinha HIV/Sida com 41 anos, não tive tempo para chorar de tão debilitada que estava, pesava apenas 29 quilogramas e estava cheia de feridas na pele. O meu marido abandonou-me e os meus vizinhos viraram as costas para mim e começaram a desprezar os meus oito filhos, mas mesmo assim, não desisti de viver.

Estas são as palavras de Ana Maria Muhai, natural de Mandlakazi, considerada “mulher de coragem 2011” em Moçambique pela embaixada dos Estados Unidos da América, um prémio internacional da Secretária de Estado Hilary Clinton, atribuido anualmente.

O prémio foi instituído em 2007 para assinalar o Dia Internacional da Mulher e reconhece as mulheres de todo o mundo que têm demonstrado coragem e liderança excepcional na advocacia dos direitos humanos e promoção da mulher.

No ano passado o prémio para Moçambique foi atribuído à activista e presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, Alice Mabota.

Ana Maria Muhai, galardoada nesta quinta-feira, é activista de HIV/SIDA do Centro “DREAM” da Comunidade de Santo Egídio, localizado em Maputo.

Ela foi condecorada com o título de “Mulher Coragem 2011” em Moçambique por ter assumido publicamente ser HIV positiva e pela sua luta abnegada contra a discriminação das pessoas que vivem com o vírus no país.

Por outro lado, ela tem trabalhado incansavelmente na sensibilização de pessoas portadoras do vírus para terem uma vida positiva, assumirem que são iguais as demais pessoas, mostrando que ter o HIV não é “o fim do mundo”.

Muhai contou a AIM que descobriu que era seropositiva pouco tempo depois de gerar a sua última filha, em 1997.

“Depois de ter o último parto, dois meses depois comecei a enfraquecer, oito meses depois comecei a ter uma tosse que não parava e os médicos diziam que era malária e eu ia tomando um coktail de medicamentos, mas a doença não passava. Estava a emagrecer cada vez mais. Em 2002, encontrei os irmãos da Comunidade Sant’Egídio, fiz o teste de HIV e tive diagnostico positivo e, a partir daquele momento, comecei a fazer o acompanhamento até que foram introduzidos os antiretrovirais no país e eu iniciei o tratamento que sigo até hoje, contou.

A homenageada fez saber que quando começou a emagrecer as pessoas a apontavam na rua, “eu me virava para que vissem a minha cara. Eu não tinha mais nada a perder, estava só preocupada com os meus filhos, com quem eles iriam ficar se eu morresse. Hoje, os mesmos vizinhos vêm ter comigo a pedir que fale com seus familiares que tem a mesma doença”.

Para ela, o apoio da família, nomeadamente: pais e irmãos, foi fundamental para a sua “cura”.

“Eu rezava a Deus todos os dias para que eu não morresse para poder continuar a cuidar dos meus filhos. Os meus familiares não me abandonaram. Eu admiro as famílias que não apoiam, que abandonam os seus filhos que têm esse problema. Se encontrei os irmãos do DREAM foi graças a minha família, particularmente à minha mãe, senão hoje estaria morta”, afirmou.

A interlocutora deixou uma mensagem de esperança para todos os moçambicanos, nos seguintes termos “o HIV não é o fim do mundo. Não discriminem quando alguém aparece com um resultado positivo como é o meu caso. Hoje se pode viver normalmente, basta fazer o tratamento e seguir as recomendações médicas rigorosamente”.

Por sua vez, a embaixadora dos EUA em Moçambique, Leslie Rowe disse que a coragem e os esforços incansáveis de Ana Maria Muhai motivaram e continuam a motivar centenas de pessoas seropositivas, e o seu trabalho tem sido fundamental na transformação do silêncio da vergonha na voz da esperança.

Segundo Rowe, apesar da discriminação imediata e intensa contra ela e os seus filhos, que começou logo depois do teste, ela surgiu como um dos primeiros moçambicanos a falar publicamente sobre o seu estado serológico.

“Em conjunto com algumas outras mulheres extremamente corajosas, a sua feroz determinação e a disposição para suportar o desprezo de estranhos e dos amigos fizeram dela uma líder no combate à discriminação contra as pessoas que vivem com o HIV em Moçambique”, explicou.

A embaixadora frisou que “os triunfos da nossa homenageada em face da enorme diversidade servem de inspiração para as mulheres na sua comunidade e em todo o país. Através dos seus esforços e activismo, a outrora marginalizada, que se recusou a ser silenciada, foi escolhida para acompanhar os últimos dois Primeiros-ministros de Moçambique para discursar em conferências internacionais”.

“Ana Maria, queremos honrá-la, não só como mulher de coragem, mas também como símbolo de todas as bravas mulheres, homens e crianças seropositivas em Moçambique que lutam todos os dias com esta doença terrível”, declarou.

De salientar que a distinção de Ana Maria Muhai coincide com a celebração do dia da mulher moçambicana que se assinala este sábado, dia 7 de Abril.

“Mulher de Coragem” é o único prémio do Departamento dos E.U.A. que rende tributo a mulheres líderes emergentes mundialmente e oferece uma oportunidade singular para reconhecer as mulheres de todo o mundo que trabalham no domínio dos assuntos internacionais dos direitos humanos e da mulher.
(AIM) 
http://noticias.sapo.mz/aim/artigo/434206042012172213.html

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