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“Era como pegar numa folha de papel”
22
Mar
2009
22 - Mar - 2009



MAPUTO, 18 Março 2009 (PlusNews) –

Hortênsia*

Quando a mãe morreu, a Yara tinha um mês. O pai deixou-a comigo e foi para a África do Sul. Eu e meu marido tomamos conta dela. Ela era magra, não crescia, tinha uma diarréia incontrolável. Era como pegar numa folha de papel, tão era leve o corpinho da minha Yara.

A enfermeira me perguntou: “Queres saber de que morreu a mãe da Yara? Morreu de SIDA. E infectou também a tua netinha.”

Eu e meu marido, que era pedreiro, vivemos juntos o calvário da saúde precária da Yara. Aquela menina precisava de todo nosso apoio e nós precisavamos do apoio de alguém: estávamos enfrentando algo maior que a nossa compreensão. Tínhamos ouvido falar de SIDA, mas agora tínhamos a doença em casa.

O pai da Yara não queria acreditar. Uma vez, tentou arrancar a menina de mim para levar para África do Sul com ele. Eu chorava, pensando que a Yara não iria aguentar sem os cuidados de que precisava.

Disse-lhe que a menina estava infectada, que a mãe dela tinha morrido de SIDA. Ele achava que eram histórias. Até quando foi fazer o teste. Ele também é seropositivo e diz que está a fazer o tratamento.

Meu marido faleceu o ano passado. Foi-se embora por causa da cólera. E foi mais uma tragédia na minha casa. Um dos filhos que vive comigo queria que eu saísse de sua casa. Foi uma grande luta, mas consegui vencer.

Eu vivo perto do centro DREAM da Matola 2. As activistas que fazem assistência domiciliária me encontraram e foi uma grande ajuda para mim.

A Isabel, uma das activistas, vinha todos os dias para tomar conta da Yara. Preparava papinhas para alimentar aquele corpinho que ainda parecia uma folha de papel. Foi o grande desafio de todos.

Vivo numa casa sem água corrente nem energia eléctrica com o filho que queria me correr de casa e o filho dele e outro neto, deixado aos meus cuidados porque o novo marido da minha filha não quer saber dele.

Há uma semana juntou-se também outra filha que se separou do marido, com mais um filho. E finalmente a Inocência, minha última filha, que eu tive aos 50 anos. Eles não contribuem muito lá em casa. E eu tento juntar o almoço com o jantar, vendendo verduras na banquinha que montei na paragem dos autocarros, perto de casa.

Vendo nhangana, matapa e cacana. Não tenho dinheiro para comprar cenouras e as outras verduras porque já não tenho a ajuda do meu marido. Acarreto água da minha vizinha: dois tambores e duas bacias custam 70 meticais por mês. Está muito difícil.

Recebo o suporte nutricional do programa DREAM. Um saco de comida, arroz, soja, amendoim, óleo. É a grande ajuda que me permite fazer as papinhas para a Yara, que já começou a tomar os antiretrovirais. Às 7 e às 19 horas dou-lhe o xarope. Ela está a crescer bem e é a minha alegria!

Uma vez por mês vou ao centro DREAM para a criança, em Maputo, para levantar o suporte nutricional, para a consulta e para a colheita de sangue da Yara.

A Yara vai precisar de fazer uma operação porque um pezinho está torto e não assenta bem no chão. A médica irá decidir quando.

O meu filho diz que vem o próximo mês. Vou-lhe explicar que a Yara precisa de cuidados, todos os dias. Ninguém terá a paciência de lhe dar os medicamentos. Deve ficar comigo enquanto não for auto-suficiente. Espero só que não queira arrancá-la de mim. Terá que passar por cima do meu corpo!

*nome fictício

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