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Savana (Moçambique)

Seropositivos queixam-se de discriminação
28
Giu
2009
28 - Giu - 2009




Escrito por Salane Muchanga

 

Desde que o Ministério da Saúde (MISAU) tomou a decisão de encerrar os hospitais-dia a nível nacional estalou a angústia e a incerteza no seio dos seropositivos. Estes dizem não saber o que será das suas vidas num futuro próximo, caso permaneçam acções de discriminação contra este grupo sensível de pacientes por parte dos profissionais de saúde afectos ao Sistema Nacional (SNS) onde estão integrados os serviços de tratamento para as pessoas que vivem com aquela doença.

O MISAU decidiu ano passado encerrar os hospitais-dia (clínicas especializadas para seropositivos) alegando serem focos de discriminação e fontes que aumentam estigma em relação à doença.
Actualmente, um grosso número dos doentes que recebiam o tratamento nos hospitais-dia já foi integrado nos serviços nacionais de saúde.

Os doentes que recebem tratamento através do Programa Dream, da Comunidade Santo Egídio e outros serão também integrados no Serviço Nacional de Saúde, segundo confirmou esta semana o porta-voz do MISAU.

O governo moçambicano espera, até ao final de 2009 oferecer tratamento antiretroviral a cerca de 150 mil pessoas.
No entanto, o grosso dos beneficiários continua insatisfeito com esta medida pois diz não encontrar as mesmas condições de atendimento que lhes era habitual nos serviços privados (os hospitais-dia são habitualmente assistidos por ongs).

Segundo os nossos interlocutores, actualmente, permanecem horas a fio, à espera de atendimento nos hospitais públicos onde estão integrados. “Quando chega a nossa vez, o enfermeiro ou farmacêutico anuncia em voz alta o nosso nome, o tipo e a dosagem dos antiretrovirais (ARVs) a receber”, disse Artimiza Ernesto Chiziane de 30 anos, relatando o dilema que passam os seropositivos.

O pior, acrescenta, “é que tudo isto acontece sob o olhar de curiosidade e desprezo dos outros pacientes que não estejam nas mesmas condições”.
Para Artimiza, para além do mau atendimento e da super-lotação nos hospitais, a desistência do tratamento ARV, pode ser uma das consequências.
Todavia, o MISAU não aceita tal afirmação, alegando que o abandono do tratamento pode estar aliado a longas distâncias que os pacientes percorrem para chegar ao centro de saúde, entre outros factores.
Para defender a sua posição, aquela instituição aponta que na província de Manica, por exemplo, 12 por cento dos 4.300 doentes que recebiam tratamento desistiram em 2008. A mesma percentagem de desistências registou-se também em 2007 antes de se encerrarem os hospitais especializados para seropositivos, naquela província.

Cartões outro problema
Segundo contam, outro problema que têm vivido os seropositivos em tratamento tem a ver com os cartões de identificação, uma vez que todos os registos foram transferidos para hospitais públicos.
O paciente recebe um cartão associado a esse registo, através do qual é feito o controlo do seu tratamento. Em casos de infecção oportunista, é através do cartão que o profissional de saúde poderá prescrever medicação compatível com os ARVs.
Artimiza explica que através dos cartões, os outros doentes conseguem aperceber-se da situação de seroprevalência do paciente, isto porque “estamos todos na mesma fila à espera de atendimento ”.

É preciso coragem nos hospitais públicos
Outros seropositivos que optaram em falar na condição de anonimato dizem que o que mais lhes inquieta é o tratamento ao qual estão a ser submetidos nos hospitais públicos, “pois o comportamento dos profissionais de saúde está-nos a empurrar para a morte”.
Esta situação, segundo disseram tem concorrido para a desistência dos seropositivos em continuar com o tratamento, pois “só vai às farmácias de hospitais públicos receber ARVs e outros serviços de saúde quem tiver coragem para enfrentar o público”.
Mãe de três filhos, Artimiza afirma que, apesar do Programa Dream, instalado junto do Hospital Geral da Machava, na província de Maputo, onde ela recebe tratamento, estar ainda a funcionar, os seus familiares e outras pessoas próximas a ela passam por aquelas situações desde que foram integrados nos serviços públicos”.
“Se encerrar o programa Dream não sei o que será de mim e outros companheiros porque foi graças aos serviços de qualidade que ali são prestados que ressuscitei da morte”.
De acordo com Artimiza, nos hospitais-dia as pessoas sentem-se mais à vontade. “Constituímos uma família em que cada um fala dos seus problemas e os activistas dão-nos conselhos sob como devemos levar a nossa vida. Trocamos experiências sem receio”.
A nossa fonte não nega que integrar todos os doentes, sem exclusão do tipo de doença, no serviço nacional de saúde, pode ter alguma vantagem. Mas, “acho que seria melhor que permanecessem os hospitais-dia, porque para além da assistência médica, temos lá activistas que nos prestam apoio moral o que não acontece no público ”.
É que para ela com a medida levada a cabo pelo MISAU em vez de ajudar no combate à discriminação, “estamos a dar oportunidade ao estigma”, acrescentou.
De referir que Moçambique tem uma seroprevalência de 16,2 por cento, mas números mais alarmantes poderão ser registados a curto prazo na zona sul do país onde se prevê que a província de Gaza venha a atingir 35%, Maputo província com 34% e Cidade do mesmo nome com 29%.
Estes dados foram revelados semana passada pela primeira-ministra, Luísa Diogo, por sinal Presidente do Conselho Nacional de Combate ao Sida, após a 31.ª sessão ordinária daquela instituição.
Para se inverter o cenário, Diogo diz que o CNCS chegou à conclusão de que se deveria partir para um plano de emergência que terá como base acções vigentes à mudança de comportamento da população. Isto porque, “na zona sul, as pessoas têm informação sobre a doença e a solução é a mudança de comportamento”, sublinhou.

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